domingo, 10 de janeiro de 2010

A Revolução Irresistível

Esse nome, nada original, foi tirado do livro "The Irresistible Revolution: Living as an ordinary radical" (Revolução Irresistível: Vivendo como um radical ordinário) escrito pelo ativista cristão Shane Claiborne e sua pequena comunidade (Simple Way Community http://www.thesimpleway.org/ ) na periferia de Philadelphia, no estado da Pennsylvania, nos Estados Unidos. Além de falar de suas experiências pessoais como cristão, até sobre suas experiências na comunidade na Philadelphia, desde quando ainda era um estudante universitário, fala sobre sua experiência missionária em Calcutta na Índia em 1998 com Madre Teresa, sua experiência missionária no Iraque em 2003 com um grupo de pacificadores cristãos (Christian Peacemaker Teams http://www.cpt.org/ ), no início dos bombardeios às cidades iraquianas pela Força Aérea Americana, e sua experiência no seminário da mega-igreja americana Willow Creek Community Church.

Foi um livro muito inspirador para mim, pois na época estava tendo contato com pessoas radicais (esquerdistas e socialistas) que questionavam minha fé e sua relevância para a sociedade. Já tinha tido contato com pessoas céticas (punks, anarquistas e ateus) e críticas da indiferença e alienação de muitas instituições religiosas e muitos religiosos que se diziam cristãos em relação às mazelas sociais e mundiais. Comecei então a ler o que a Bíblia tinha a dizer a respeito dessas questões, foi uma leitura cheia de descobertas de textos bíblicos raros e preciosos, lidos por poucas pessoas, mesmo clérigos e religiosos. Vi uma bela e diferente ética social explicitada no Sermão do Monte (ou da Montanha) proferido por Cristo Jesus (bem-aventurados os mansos, os pacificadores, os que têm fome e sede de Justiça, os que choram, etc.). O mais curioso foi descobrir um Velho Testamento (tão odiado pelas pessoas graças as interpretações "fundamentalistas" deste) com idéias totalmente radicais (no sentido sócio-político da palavra) em suas leis e ordenanças, e em sua preocupação social. Afinal o Ano de Jubileu na Lei de Moisés (na Torah Judaica), era o ano de libertação dos escravos, "reforma agrária" (todas as famílias israelitas tinham direito à terra, e mesmo que essa fosse perdida por pobreza seria restituída nesse Ano). Esse era o "Ano agradável do SENHOR", que o profeta Isaías predisse que seria pregado pelo Messias, essas eram as "Boas Novas aos pobres, quebrantados e fracos" de Isaías 61 verso 1. Vi no Velho Testamento diversos direitos, entre eles, direitos aos estrangeiros (algo que nem os gregos em todo seu esplendor da Era Clássica tinham, muito pelo contrário, eram exageradamente preconceituosos e racistas com os estrangeiros, os quais chamavam de bárbaros, seres humanos desprovidos do glamour e progresso da "civilização" grega). Conheci uma Igreja Cristã Primitiva em Atos dos Apóstolos, que vivenciou o mais profundo significado que a palavra "Comunidade" pode ter, algo que tanto ansiamos nesses tempos hiper-individualistas da pós-modernidade e do pós-humanismo. Uma Igreja que permitia que o Espírito de Deus agisse no Corpo de Cristo acima das Instituições sociais de sua época, por isso eram tão perseguidos pelos romanos como subversivos. Estavam pregando um Novo Reino com um novo Rei, que havia nascido em um estábulo e morrido como blasfemo pecador e rebelde revolucionário em uma Cruz ao lado de assassinos, e que havia ressuscitado para a revolta dos intelectuais gregos (para os quais a ressurreição era uma insanidade) e escândalo de muitos religiosos judeus, um Rei que estava acima de todos os reis e acima de César, um crime para os poderosos e principalmente para Roma.

Mas a pergunta que fica talvez possa ser, como viver essa Revolução Irresistível? É algo para "santos" imaculados? Para revolucionários intelectualizados? Para seres humanos especiais? Talvez mutantes evoluídos? Talvez uma Utopia inalcançável? A verdade é que o Espírito de Deus chama todos os seres humanos, pecadores, cobradores de impostos, prostitutas, mentirosos, avarentos, fariseus, imperfeitos, ordinários e comuns para vivenciar isso. É uma revolução que começa dentro de cada um de nós, através de um Amor genuíno que não vem de nós mesmos, e vai expandindo para a Redenção de toda a Existência Humana e todo o Universo Criado. Bem-Vindos à Revolução Irresistível!

"Todo mundo pensa em mudar a humanidade; ninguém pensa em mudar a si mesmo."
León Tolstói (1828-1910), pacifista cristão russo.

" A verdadeira santidade não tira os homens do mundo, mas capacita-os a viver melhor nele e incita os empreendimentos que ajudam a restaurá-lo."
William Penn (1644-1718), cristão não-conformista e pacifista fundador da Colônia da Pennsylvania

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